Rotina

Abro meus olhos, ainda sonolentos, e no escuro agarro o despertado e desligo aquela melodia estridente que ecoa em meus ouvidos. Levanto-me com o corpo cansado, mesmo tendo dormido uma noite inteira. Vou até o banheiro, escovo meus dentes, ligo o chuveiro e sinto, por um momento minha alma se limpa, me sinto agradecida por essa lavadora de almas, que momentaneamente leva minha dor para o ralo enferrujado do meu banheiro.
Mesmo contra minha vontade, minhas pernas me guiam para mais um dia de trabalho e eu penso: ‘’pernas traidoras essas minhas, que me conduzem a mais um dia a essa rotina destrutiva’’. Já em meu trabalho, o tempo passa tão vagarosamente, mais somente eu pareço me importa, olho para o lado e vejo alguns colegas cercando e conversando com a nova funcionária, que estava conosco há somente alguns dias. Eles pareciam amigos de infância, um apego quase que instantâneo. Pergunto-me porque essa dependência do ser humano ser aceito? Chegam até mesmo a mendigar sentimentos, sentimentos esses que deveriam ser conquistados e não dados a qualquer um.
Olho para o relógio e me levanto, finalmente meu horário acabou, saio daquele prédio abafado, mesmo lá fora me sinto desconfortável com aquele cheiro de gasolina queimada, deixado pelos carros, que são dirigidos por motoristas apressados, talvez seja porque hoje é sexta-feira e eles querem, o mais rápido possível chegar ao conforto dos seus lares e reencontrar suas famílias. Espero que isso realmente aconteça.
Entrei em uma loja na qual minha irmã havia me pedido para comprar uma blusa que estava em liquidação. Era a ultima da arara, minha irmã havia tido sorte daquela vez. Entro na fila para pagar a blusa e vejo começar uma discussão entre uma cliente e uma atendente de caixa, a cliente alega ter sido mal atendida pela moça do caixa, a moça pede desculpas em meio aos olhares curiosos dos outros clientes. Um pouco mais calma, a cliente pega suas sacolas e vai embora e a moça do caixa, com sentimentos nulos, estampa um sorriso robótico no rosto e pergunta ao próximo cliente: ‘’dinheiro ou cartão, senhor?’’. 
Já no ônibus de volta à minha casa, vejo aquelas pessoas, a cobradora com sua cara sempre emburrada, o rapaz que sempre esquece os fones de ouvido, uma mulher que só sabe reclamar da vida, e um homem com uma aliança na mão esquerda, flertando com uma moça loira e bonita. Mas uma cena me chama atenção: aparentemente uma mãe acalentando sua filha em seu colo, a menina estava com um casaco rosa, porém, sua mãe tirou seu próprio casaco e cobriu a menina... Sua pele se arrepiou, era o frio, mas ela não se importava, afinal, a sua cria estava protegida, protegida não só pelo casaco, mas por todo aquele sentimento e amor, que pertencia somente a ela.

Chego em casa, troco de roupa e durmo em minha cama aconchegante e quando menos espero, escuto o despertador de melodia estridente... 

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